Dois meses passaram-se. Ele voltou para a Suíça, ela para sua cidade interiorana.
Naquele dia, acabara de chegar de volta à cidade do reencontro. Pegaria o avião no fim da tarde.
Vendera quase tudo o que tinha. Dera o aviso prévio no emprego logo que voltara de viagem e contara à família. A mãe e a irmã não foram a favor logo de cara, acharam-na precipitada, mas acabaram concordando que ela não tinha nada a perder e, eventualmente, fizeram as pazes com a ideia.
Gaia e a mãe possuíam, agora, duas malas grandes de roupa e sapatos cada uma, além do estimado urso da menina. Os livros dela, o violão e alguns outros objetos pessoais tinham sido despachados previamente e ele os recebera na semana anterior.
Ela sentiu o celular vibrar na entrada para a sala de embarque.
“Sinto a sua falta. Está tudo pronto aqui, só esperando por vocês. Tô ansioso. Vê se não atrasa, hm? :p”
Ela se apressou a respondê-lo: “Também sinto a sua falta e também tô ansiosa :p Não vou atrasar, bobo. Na verdade, já estamos pra embarcar.”
“Bom, boa viagem. Estarei no aeroporto com casacos felpudos e abraços quentinhos pra vocês.”
“Abraços quentiiiiinhos :3 Entrando aqui. Gaia não sossega de ansiosa. Até aqui a algumas horas, beloved. Amo você. Amamos você.”
“:3 Amo vocês também =*”
A viagem, apesar de longa, passou rápido. As duas viram desenho e dormiram durante a maior parte das 11 horas de deslocamento e, quando chegaram a Berna, já era manhã na cidade.
Estava frio. Ela vestiu a filha com cachecol, gorro e jaqueta, mas Gaia ainda tremia a cada brisa. O mesmo valia para ela, e agradeceu mentalmente pelos casacos felpudos e abraços quentinhos que as esperavam.
Colocou as malas no carrinho após ter seus documentos conferidos pela terceira ou quarta vez. Gaia sentou-se em cima da mala maior, com o ursinho numa mão e chocolate do avião na outra.
Avistaram-no. Usava jeans, camisa de gola e mangas compridas e tênis, e tinha os casacos felpudos prometidos pendurados no braço direito. Ela empurrou o carrinho na direção dele, que sorriu ao identificá-las e veio andando em direção a elas.
Ao se encontrarem, ele a abraçou e a beijou enquanto cobria seus ombros com o casaco. Depois, vestiu Gaia, que também o abraçou.
– Vamos pra casa? – perguntou, sorrindo. Ela sorriu de volta e segurou a mão da filha enquanto ele empurrava o carrinho com as malas em direção ao carro.
– Mãe! – Gaia puxava a manga do casaco dela, como se quisesse que ela abaixasse. Ela ergueu a filha, que sussurrou em seu ouvido: – Ele vai ser meu papai?
– Você quer que ele seja? – ela perguntou, e a menina fez que sim com a cabeça. – Pergunte a ele se ele quer, então.
Gaia desceu do colo da mãe e andou em direção a ele.
– Tio Vi… – ela puxou a barra do casaco dele. Não podia alcançar a manga. Ele parou e acocorou-se de frente para a menina.
– Diga, princesa. – ela observava a cena, comovida.
– Você quer ser meu papai?
Ele se emocionou. Ergueu-a no colo, abraçou-a e beijou-a.
– Claro que quero, meu amor. Claro que sim.
Continuaram andando para o carro, um ao lado do outro, Gaia nos ombros dele.
A tão esperada felicidade tinha chegado.