Ode à Gataiação

Após meses, um dia pra gataiar.

Uma delícia. Horas e horas na cama, lendo, com paradas regulares para assistir às nuvens dançando no céu azul de fim de verão.

Uma boa trilha sonora de fundo, sem pensar em nada, cantando para que a querida me desse atenção, que o moinho mundo trituraria os sonhos dela.

Fazendo nada, pensando nada, sem tédio ou inquietação, permitindo ‘carpediemzar’. Observando e absorvendo tudo o que toca, por todos os sentidos.

O tempo escorrendo pelos meus lençóis e minhas coxas nuas a cada espreguiçadela, em cada ronronar uma onda de prazer.

A carência de toques; porém, o contentamento, com uma companhia antiga e inanimada, com o amargor e a doçura do café ao chocolate.

O silêncio da casa vazia, apenas os sons distantes urbanos para aguçar os ouvidos felinos.

Sem perturbações.

“Fora desse quarto, o mundo tanto faz.”

E que eu me permita mais dias assim.

E nada ficou bem…

O ano tá, finalmente, acabando. Mas eu ainda quero chorar.

Quero chorar porque me sinto sozinha. Porque, depois de muito batalhar, perdi alguém que amei, que ainda amo mais que tudo nessa vida, e que me faz uma falta extrema. Porque finalmente me apaixonei de novo, mas me apaixonei sozinha. Porque tenho medo das mudanças que o ano próximo trará.

Quero chorar porque não fui capaz de ser feliz, não fui capaz de fazer ninguém feliz.

Minha Luta

Hoje eu percebi algo diferente em mim. Algo que eu nunca tinha notado, que se fez muito presente nesse dia específico.

Hoje, encontrei-me com meu Holmes – sim, tenho uma relação Holmes/Adler – e descobri uma força muito grande dentro de mim mesma. Um pouco inspirada pela data, um pouco por uma história que ouvi, mas é, descobri. Descobri que não sei não lutar pela minha felicidade, que não sei desistir.

Então decidi que vou lutar. Sem revoltas, sem desespero, sem ódio, respeitando os limites, dentro do sistema. Usar o amor como espada, a paciência como escudo, a garra como mana e a virtú como virtú mesmo que ela por si só não precisa de paralelos.

Talvez não seja fácil. Mas de que importa? Chris Martin já profetizou: “Nobody said it was easy…”. A meu ver, toda luta é válida, e meu objetivo é nobre. Não se preocupem se nada compreenderem, esse é um texto intimista.

Ah, o que o amor nos faz…

Sobriedade

Pois que os dias sóbrios são os melhores pra se escrever.

Não dá pra se perder nos sentimentos de uma personagem porque você mesmo torna-se um, um joguete na sua própria mão.

Um dia sóbrio é um dia em que você brinca de Deus consigo mesmo. Nada te afeta, afeta apenas o seu avatar, o seu personagem. Você está só controlando as ações, de um lugar isolado, onde nada pode te atingir. Nada te provoca reações, tudo é passividade.

Nada de sentimentos extremados. Nada de lágrimas ou de gargalhadas. Nada de raiva ou de paixão. Tudo parece tornar-se “lidável”. É um dia racional. Como se a mente tirasse um dia de folga pra se restabelecer das batalhas sentimentais que arrasam o território neurológico, sejam os sentimentos bons, ruins ou indefinidos.

É, em alguns momentos, o sóbrio sente-se insuportável. Pois que não sente, apenas observa e julga. E esses, os julgamentos, nem sempre condizem com a moral ideal escolhida por ele para si mesmo.

A sobriedade, em verdade, não é tão inquebrável assim. Basta uma avalanche maior de sentimentos para voltarmos à posição de personagem da de observador. E, por mais que pareça, também não é tão boa assim. Perde-se muito em dias sóbrios. Mas tenho para mim que são perdas necessárias.

Descansar é útil, mas além do necessário, só há de causar danos.

Saudade

Eu descobri que a saudade não é só aquele incômodo, causado pela falta de alguém, que dá e passa. E que não depende de distâncias físicas. E que não existe só em um momento ou outro. E que eu nunca tinha sentido saudade de ninguém, não até o dia da minha descoberta.

Descobri que saudade, para ser chamada assim, deve ser completa. Ela é um monstrinho, sim. Mas se não for, não é saudade, perde a identidade. É um monstrinho, sim. Assusta, faz a gente ter medo e chorar. E dói também, mas aí já não sei o que tem a ver a dor com o fato de a saudade ser um monstrinho.

Descobri que a saudade é perene, enquanto não for curada. Às vezes faz mais algazarra e domina todos os pensamentos; às vezes fica quietinha, no canto, lendo um livro. Mas está sempre lá, e é sempre sentida. Nos piores dias, é como lidar com uma criança hiperativa: ela te enlouquece, te faz arrancar os cabelos. Nos menos piores, você convive. De vez em quando até abraça e faz um cafuné, pra ver se ela se mantém quietinha.

Descobri que a saudade incomoda em todos os âmbitos: desde a falta de convivência total com o alvo dela, que é o mais comum, até quando se convive intensamente, mas tendo algo pequeno e muitas vezes banal se perdido. Cuidado com o segundo caso: ele nos leva a cobrar coisas que não podemos, pode destruir relacionamentos perfeitamente bons e viáveis.

É, eu descobri que sinto saudades. E depois desse tempo todo brigando com ela, acho que a melhor saída é tratá-la como meu monstrinho de estimação, que ela não deve ir embora tão cedo.