Reencontro (Parte 4): O Jantar

O hotel oferecia serviços de babá, então ela pôde sair tranquila e deixar a filha dormindo no dormitório infantil. Arrumara-se ao máximo, mas as roupas e o que tinha para o cabelo não a haviam ajudado muito. Apanhou o táxi na porta e, em meia hora, chegou ao ponto de encontro. Ele já esperava por ela, como de costume.

– Chegou há muito?

Ele a abraçou.

– Não muito. Oi.

– Oi – ela o beijou no rosto – Dormiu bem?

– Sonhei contigo.

– High five então – ela levantou a mão.

– Você também sonhou contigo? – Ela riu.

– Não, mané. Sonhei com você.

Ele a beijou. Ela pode perceber sua paixão antiga acordando do coma a que fora induzida.

Precisava tomar uma decisão. Já sofrera o suficiente quando ele se separara dela, e de novo quando fora embora. Era muito jovem, não soubera estar apaixonada, o sofrimento também não havia sido fácil. Não queria sofrer de novo.

Ele não iria ficar. Tinha uma vida na Europa, sua família era prioridade e estava lá, ele não os abandonaria. Ela não queria sofrer de novo.

– Eu não posso.

– Desculpe.

Ele tirou as mãos dela. Ela o abraçou.

– Foi difícil. Quando você foi embora.

– Não foi difícil só pra você.

Houve um silêncio incômodo.

– O que aconteceu com a gente?

– A vida aconteceu, amor.

– E o que vai acontecer?

– Eu não sei.

Andaram em silêncio por um tempo, observando o belo trabalho de mosaico da calçada.

– Sabe, eu ainda te quero tanto quanto antes. Mas eu sei que você não vai ficar. Sei que não pode, que sua vida está lá.

Ele a abraçou por um longo tempo.

– O que é que te prende aqui?

Ela pensou. A busca pelo filho. A mãe, a irmã. Ele pareceu ler os pensamentos dela.

– Podemos continuar a procurar pelo seu filho. Emprego pra jornalista é o que não falta na Europa. Gaia terá uma boa educação, e poderemos visitar sua mãe e sua irmã sempre que for possível.

Não existiam pontos negativos na possibilidade, mas ela temia. Era um passo grande.

– Isso exige muito planejamento, eu não sei se tenho dinheiro o suficiente. Onde eu moraria? Quem ficaria com a Gaia enquanto eu trabalho?

– Se é isso o que te preocupa, não existe razão para preocupação. Dá-se um jeito. Tenho dois apartamentos desocupados, um no norte da França e um no sul da Inglaterra, você com certeza poderia ficar em um deles, se preferir não vir morar comigo em Berna. As melhores escolas lá são de tempo integral, não teria de se preocupar com Gaia durante o trabalho.

Ela pensou. Quando o silêncio pesou, ele o quebrou.

– Eu amo você, Leoa – e tocou a ponta do nariz dela com o indicador.

Ela estremeceu. A familiaridade do gesto trazia boas lembranças.

– Eu também amo você, Urso.

Se olharam, em silêncio, por um segundo.

– Bem, não precisa decidir isso agora. Podemos decidir o que vamos comer primeiro, né? Tô com fome! – ele indicou a porta do restaurante com um sorriso bobo no rosto.

Entraram, pediram, jantaram e conversaram, sobre coisas que tinham feito e sobre o que ainda queriam fazer e, ao fim do jantar, o vinho já a havia ligado. Ela estava elétrica, como se tudo ao redor estivesse devagar demais, e contia com dificuldade a vontade de beijá-lo.

Ele a levou até o ponto de táxi e esperou pelo transporte com ela. Continuaram a conversar, e pareceu pouco o tempo que o táxi levou para chegar. Ela o abraçou, para se despedir.

– Eu aceito – ela sussurrou – Aceito morar contigo, se tu prometer não me abandonar.

– Deixe de ser boba, mulher. Quase onze anos do outro lado do oceano e não te abandonei. Isso não vai…

Ela o puxou pelo colarinho e o beijou. Entraram os dois no carro e logo chegaram ao hotel.

– // –

Acordou num susto, e levou outro susto ao encontrar a mão dele quando a buscou. A felicidade inundou sua alma como nunca antes. Aninhou-se no peito dele, o lugar mais confortável do mundo.

– Bom dia, pequena – ele a beijou na têmpora com carinho, o corpo nu ainda colado ao dela – O que temos pra hoje?

– Pegar a Gaia no dormitório e tomar café. – Ela sentiu o volume que tocava seu ventre e se animou – Mas acho que isso pode esperar.

Ele sorriu.

Ober un evezhiadenn