Reencontro (Parte 1): A Viagem

Ele estava voltando. Após mais de dez anos, ele estava voltando.

A notícia mexeu com ela de uma maneira sem precedentes.

Depois de muito tempo, ela recebera uma carta. Ele dizia sentir a falta dela e querer vê-la. Tinham ficado muito tempo sem se falar: as obrigações do dia-a-dia pesavam para ambos, fazendo com que a frequência da troca de cartas tivesse sido reduzida às datas de aniversário e de Natal. Mas era Julho, e uma carta chegara, avisando que ele voltaria.

Muito havia acontecido desde a partida dele. Ela havia sido vivido mini aventuras e sido abandonada algumas vezes; casara-se, divorciara-se e perdera a guarda do filho para o ex-marido, que sumira com o menino. Pensara em desistir, mas encontrara forças para se reerguer e construir a vida que tinha, morando com a filha pequena, tão parecida com ela que era difícil acreditar que fosse adotada.

Ela não sabia bem o que havia acontecido com ele durante todo esse tempo. A carreira de diplomata fizera com que ele se mudasse para a Europa, deixando a família para trás. Após um tempo, conseguiu mover a mãe e os avós para uma cidade de médio porte nos arredores de Paris, pela qual passava na maior parte de seus trânsitos no continente. Sabia que ele tivera um filho com uma escocesa, mas nunca soube os pormenores da história dos dois. Tinham muito o que colocar em dia.

Veriam-se em breve. Na carta estava escrito que ele chegaria no fim de semana e ficaria na cidade grande, em casa de parentes. Ela viajaria com sua pequena para vê-lo: oito horas de viagem, planejadas em cima da hora, valeriam a pena quando ela o pudesse rever. Sua alma gêmea, seu melhor amigo estava de volta.

Na sexta feira, logo depois de pegar a pequena na escolinha, acomodou-a no bebê conforto, sentou-se a seu lado e admirou-a por um momento, devaneando sobre o amor que sentia por aquela menina, tão igual ao que sentira e sentia pelo filho perdido. Arrumou as malas ao lado da cadeirinha e dirigiu-se ao assento do motorista do pequeno carro.

A cada quilômetro rodado, sua ansiedade aumentava. O avião estaria pousando a qualquer momento. Teria ele mudado muito desde a última vez que se viram? Ainda seria o mesmo? Pink Floyd tocava baixo no carro, para não prejudicar o sono da pequena Gaia, por quem ela fazia paradas curtas a cada duas horas.

Chegou tarde ao hotel, e muito cansada. Quase não teve energias para cuidar de si e da filha antes de dormir e, quando dormiu, sonhou com os velhos tempos.

(continua)